Por ocasião do lançamento de um novo DVD do Elvis Presley, em comemoração aos 30 anos de sua morte, fui assistir à exibição na semana passada. Mal eu cheguei ao local, já dei de cara com clones de Elvis. Eram tantas costeletas juntas que eu não tive a menor dúvida que estava no local certo (ou errado, como vim a descobrir mais tarde).
Fãs espalhados pela sala de projeção comentavam sobre suas expectativas em relação à nova obra, que reúne seis shows, incluindo imagens inéditas, apresentados pelo Rei do Rock em 1970, portanto sete anos antes de sua morte precoce.
Eu estava preparada para assistir à apresentação. Lembro-me que quando era criança meu pai não se cansava de rodar na vitrola os seus LPs do astro, a cantar e a dançar como seu ídolo. Sim, meu pai era seguidor do Elvis. Chegava a deixar as costeletas como as dele para mostrar que tinha bom gosto musical.
Mas Elvis morreu em 16 de agosto de 1977, meses antes de eu nascer. Não vi, claro, mas minha mãe conta que meu pai chorou no dia, ficou de luto por uma semana, porém nunca perdeu a alegria de cantar e dançar ao som de Elvis.
Bom, mas voltando ao lançamento do DVD. Quando o filme começou, todos ficaram quietos, sentadinhos, esperando ser envolvido pelas imagens, pelo carisma e pelo jeito irreverente com que Elvis conduzia a banda e gargalhava e brincava com a música e com a voz. No entanto, de uma hora para outra, percebi, sentada ao lado de um outro jornalista, que havia um coro que imitava as músicas.
- Oh, céus.
Eu queria ouvir as canções. Queria ouvir Elvis Presley cantando na minha frente, não o cover dele. Mas relaxei e continuei gargalhando com as brincadeiras, ouvindo as suas músicas mais bacanas. Vendo Elvis e aquela sua mania de balançar as pernas, comentei com o meu colega:
- Lembra da cena em "Forrest Gump", quando o pequeno Forrest ensina Elvis a dançar?
Pronto, ele se matou de rir ao se lembrar da cena. Quando eu percebo, lá estão aquelas costeletas falando de novo, cantando e, imagine, balançando a perna.
- Oh, céus.
As luzes do palco se apagam. Elvis, de costas, com a câmera com foco na sua enorme gola, se vira lentamente e canta:
- You never close your eyes anymore when I kiss your lips
Agora me lembrei de um outro filme.
- "Top Gun", disse ao colega.
Novas gargalhadas, pois deve ter se lembrado da clássica cena quando Tom Cruise chega ao bar e começa a cantar esta música para sua instrutora.
E assim foi. Durante toda a apresentação tinha uma música que me remetia a uma cena, seja ela de um filme ou da minha vida, como quando Elvis começou a cantar "Love me Tender" (e não terminou, pois estava mais preocupado em beijar as moças da platéia) que meus olhos se encheram de lágrimas. Outras canções também me emocionaram e me empolgaram, como "Suspicious Minds" (trilha sonora deste post), "Patch it Up", "Blue Suede Shoes" – rock and roll puro.
Quando nada poderia ficar pior, imagine que aquele punhado de fãs começou a, além de cantar e bater os pés, bater palmas. Ao final de cada canção e para acompanhar a bateria, eles batiam palmas e assobiavam.
- Oh, céus.
Tudo bem que muitos dizem que "Elvis não morreu", mas peraí: cinema ainda não é interativo. Trata-se apenas de uma imagem projetada em uma tela. Não existe a menor possibilidade de quem se apresenta ali receber os aplausos. Agora, caso Elvis tenha realmente morrido, ele pode, do Além, receber os aplausos, os gritos e os assobios, mesmo que tudo isso seja feito em pensamento. Sacou? Não, aquela galera não tinha sacado.
Mesmo não tendo ouvido direito as canções, consegui me emocionar mais de uma vez com Elvis na tela. E a lembrar de coisas que eu não conseguia por um bloqueio que existe na minha memória. Eu sei que Elvis não é o único que não morreu. Não pra mim.
Um comentário:
É isso Tati, nem prá mim também. Adorei a homenagem. Aliás, como tudo que você faz.
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