segunda-feira, 9 de maio de 2011

Reencontrando a Felicidade

Não se trata de uma comédia romântica, como o nome talvez possa sugerir. “Reencontrando a Felicidade” (“Rabbit Hole”) é um drama que discute perda, morte, mas de maneira diferente daquela vista por espíritas, tal como tem sido moda ultimamente nos filmes nacionais, principalmente.

Antes de falar sobre o filme, a expressão Rabbit Hole, nome original do filme, é uma metáfora criada por Lewis Carroll, autor de “Alice no País das Maravilhas”. Ao pé da letra, Rabbit Hole seria traduzida como toca do coelho; mas, na me­táfora, é o momento no qual passa-se a viver em um mundo diferente, paralelo, no qual não se conhece nada e não se reconhece. Como um universo paralelo.

Voltando ao filme... Becca (Nicole Kidman) é uma mulher amargurada e casada com Howie (Aaron Eckhart, de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”). Mesmo que implicitamente, o espectador sabe que os dois tentam retomar a vida depois de uma grande perda. No entanto, ele só vai descobrindo qual é o problema aos poucos e sempre de maneira indireta.

O diretor John Cameron Mitchell (“Hedwig - Rock, Amor e Traição”) não escancara a morte na tela grande, mas valoriza o sentimento de perda em sua protagonista, fazendo com que ela se torne cansativa e chata, muitas vezes malcriada e insuportável (haja vista a forma como trata as grávidas que passam por seu caminho).

A perda não é fácil de lidar, principalmente quando ela é próxima. Na verdade, nunca se esquece dos entes queridos que já se foram mas, como lembra uma das personagens, com o passar dos anos, apenas aprende-se a conviver com aquela ausência dia após dia.

Embora o casal formado por Nicole e Eckhart funcione, já que os dois tentam se ajudar a superar o problema, há algo estranho. Ao mesmo tempo que ambos frequentam um grupo de autoajuda, juntamente com Gabby (Sandra Oh), entre eles há um certo pudor ao falar sobre a dor que sentem. Desconversam, não decidem o que querem fazer dali em diante: ela foge do problema e ele vai fumar maconha.

Por falar nas reuniões de auto­aju­da, é durante um desses encontros em que o rapaz conversa com Gabby, que está uma sequência cômica. O restante é denso, triste, recheado de amargura. A não ser a pitada de sarcasmo do momento quando Becca fala sobre Deus poder escolher o anjo que quer. “Afinal, ele é Deus”. E, sim, chega a dar um aperto no coração, principalmente quando as cenas envolvem o garoto Jason (Miles Teller), autor do comic book que, voilà, dá nome original ao filme.

Com roteiro escrito por David Lindsay-Abaire, “Reencontrando a Felicidade” é um belo filme, momento principalmente de introspecção do espectador que, de alguma maneira, é capaz de refletir sobre o que está sendo contado na tela e fazer um paralelo com a vida real. E também mostra que é possível recomeçar e reencontrar a felicidade, mas, sobretudo, é preciso querer. Sozinho ou em grupo.

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