quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Tetro

Desde “A Conversação” (1974), o cineasta Francis Ford Coppola não escreve um roteiro original. Na semana passada ele veio ao Brasil lançar sua mais recente obra: “Tetro”, filme que estreia nesta sexta-feira, dia 10 de dezembro, nos cinemas.

A fita se passa na Argentina e conta a história de dois irmãos: Bennie (Alden Ehreinreich), de 17 anos, e Tetro (Vincent Gallo). O mais novo chega a Buenos Aires de navio e tem como objetivo encontrar seu irmão mais velho, que está desaparecido há mais de uma década. A família dos rapazes, de sobrenome Tetroccini (daí, Tetro) se mudou da Itália para a Argentina quando eles ainda eram crianças. Mas, graças ao sucesso do pai deles como maestro, logo se mudaram para Nova York. E depois Tetro, que na verdade nasceu Angelo, foi embora para a América do Sul em um ano sabático, onde se casou com Miranda (Maribel Verdú), médica que conheceu enquanto estava no manicômio. No entanto, quando Bennie encontra o irmão, não é quem esperava. Isso porque Tetro tornou-se um poeta melancólico, bem diferente da pessoa que Bennie se lembrava.

Qualquer semelhança com a vida real de Coppola e o longa-metragem “O Selvagem da Motocicleta” (“Rumble Fish”), lançado em 1983, com Matt Dillon no elenco, não terão sido meras coincidências. Isso porque Coppola contou, durante passagem na capital, que não faz filmes “para ganhar dinheiro ou ficar famoso”. “Faço filmes para aprender a fazer cinema e aprender sobre mim mesmo”, arremata. Francis tem um irmão cinco anos mais velho e queria ser como ele. Daí o tema central de “Tetro”: irmão que vai atrás do outro e o admira.

“Tetro” marca o retorno de Coppola para as histórias familiares, tal como “O Poderoso Chefão” e “Rumble Fish”. Esse último também é em preto e branco, tem direção e produção sob a batuta de Coppola. O roteiro, no entanto, não é original, pois foi baseado em romance homônimo de S.E. Hinton, que co-escreveu o roteiro. A fita fala do relacionamento entre o cara da motocicleta (Mickey Rourke), líder de uma gangue, e seu irmão mais novo, Rusty James (Matt Dillon).

Depois de 26 anos, ele volta a falar do relacionamento entre irmãos em um filme em preto e branco (“porque acha bonito”), com algumas pinceladas de cor. Se em “Rumble Fish” a cor aparece quando os peixes entram para brigar (daí o nome do longa), em “Tetro” o preto e branco é usado para contar toda a história e a cor só aparece quando são as cenas em flashback, ou seja, o contrário do que normalmente se usa no cinema.

Como lembra Stéphane Delorme, autor da edição com o nome do diretor da coleção “Masters of Cinema”, dos Cahiers du Cinéma, Coppola se inspirou na admiração por seu irmão e na competição entre seu pai, um maestro, e seu tio.

Coppola explora a experiência que conquistou no cinema com longas-metragens que ganharam fama e continuam sendo bem falados mesmo mais de 30 anos depois, como é o caso da trilogia de “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now”, que viraram clássicos, para quebrar paradigmas e contar histórias de modos diferentes das usuais.

Se “Rumble Fish” se passa nos Estados Unidos, “Tetro” tem Buenos Aires como cenário e o tango como trilha sonora para pontuar ainda mais o drama. E, além de espanhol, os atores usam o inglês para se comunicar. Ainda que queira evitar ser encontrado pelo irmão mais novo, Tetro foge de seu passado, pois não quer confrontar com o grande marco da sua adolescência. E sua esposa, Miranda, tenta fazer as conciliações.

Um dos pontos altos do drama é quando o jovem Bennie encontra antigos cadernos nos quais Tetro escrevia a história de sua família e que Bennie, aliás, não conhecia. Até que o caçula resolve transformar a história em uma peça teatral. E os dois vão para a Patagônia.

A semelhança dos dois filmes não está apenas no enredo (sobre dois irmãos), ou na cor (ou ausência dela), mas também em planos que filmou, a valorização da sombra dos atores nas paredes, além das imagens refletidas em espelhos, e a aparência de Matt Dillon que lembra a do ator Alden Ehreinreich. Stéphane Delorme escreve também que o papel de Bennie seria de Dillon, sugerindo que Rusty James teria se tornado “um desiludido garoto da motocicleta”.

“Tetro” é, no final das contas, um grande filme para o espectador, que pode refletir sobre questões familiares, mas também um momento no qual Coppola compactua com a plateia suas neuroses e faz da narrativa uma espécie de “terapia em grupo”, na qual tenta resolver “pendências” entre pais e filhos em cenas que são de emocionar.

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Um comentário:

Eduardo Cedeño Martellotta disse...

Oi Tatianna, tudo bem?
Tenho acompanhado sempre seu blog. Parabéns! Eu gostaria que você colocasse meu link - Portal E5 Brasil, do qual seu blog faz parte.
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