No ano passado, as pessoas puderam conferir, por exemplo, "O Solista", cuja narrativa versa sobre um sem-teto que vive nas ruas de Los Angeles e foi descoberto por um jornalista que percebeu tratar-se de um violinista com grande talento.
Desta vez, porém, a história de "Um Sonho Possível" ("The Blind Side"), também baseada em fatos reais, fala sobre um estudante sem-teto, Michael Oher (o estreante Quinton Aaron), que comove o coração de uma milionária (Sandra Bullock) e tem a chance de ter um lar, ir bem nos estudos, até se tornar um grande jogador de futebol americano.
Pois bem. Em punho de uma história comovente por si só, o diretor e roteirista John Lee Hancock (inspirado no livro "The Blind Side: Evolution of a Game", de Michael Lewis) aponta suas lentes para o desenvolvimento do adolescente e de seu crescimento como cidadão a partir da oportunidade que teve ao ser levado para a casa de uma mãe de dois adolescentes e estudantes na mesma escola onde foi matriculado.
Depois que começa a viver com a família, sua vida vai mudando, pois lhe é dado casa, roupa (uma vez que ele só tinha uma camiseta e uma bermuda para passar os dias frios, inclusive), além de educação e a chance de participar do time de futebol americano, já que ganha a confiança do seu treinador.
A partir de narrações em off, o espectador começa a acompanhar um jogo e, em seguida, uma cena com o garoto em um interrogatório. Corta. E a história não-linear volta no tempo para contar quem é o tal rapaz e como foi parar naquela mesa.
Essa parte sobre o futebol americano pode parecer maçante a nós, brasileiros, que pouco entendemos deste esporte. E é. No entanto, não é o foco da fita dirigida por Hancock, uma vez que o jogo é apenas uma muleta para contar uma história emocionante e envolvente sobre como o garoto se superou e a motivação que criou dentro de si e da nova família para estudar cada vez mais (inclusive tendo aulas particulares), de modo a conseguir a bolsa de estudos e poder jogar profissionalmente.
O longa-metragem, que estreia nesta sexta-feira, 19, discute a adoção, a caridade e o preconceito disso tudo, além do fundamental papel da família na construção de uma personalidade. Mas, de acordo com a personagem, cuidar de alguém que precisa faz bem para ela mesma e não apenas para quem recebe as doações. Ainda que se faça de durona ao fazer o bem, a personagem de Sandra Bullock, cujo papel lhe rendeu o Oscar de melhor atriz neste ano (e algumas críticas negativas sobre o prêmio), mostra que tem o coração mole. Dois exemplos é quando escuta do rapaz que é a primeira vez que tem uma cama – e não apenas um quarto – e quando vai se despedir, preferindo sair correndo e, assim, evitar abraços calorosos que despertariam a dor.
Ela, que trabalha com decoração e está sempre ao telefone tentando resolver os problemas de algum cliente, procura o senso prático de algumas atitudes e vê que sua família, como um todo, estava precisando desta reviravolta para dar valor. E Sandra, acostumada com os papéis em comédias românticas, mostra que sim, é boa atriz e pode interpretar uma boa samaritana – e além disso comover o espectador, pois tem uma verdade no olhar que convence.
Com cenas que se passam dentro de casa, na escola, e no bairro pobre de onde veio o garoto, justamente contrastando com a mansão de onde ele passa a viver, o longa vai fazer com que o espectador saia da sala do cinema com outros olhos após ver "Um Sonho Possível".
Com a evolução dos personagens, aliás, é possível que se envolva à medida que as cenas vão passando em frente aos seus olhos (lacrimejados) e o faz acreditar que, sim, é possível mudar o destino de uma pessoa. Basta boa vontade, amor ao próximo e dedicação. O resultado é surpreendente.
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