quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O Solista

Jornalistas, por função, são contadores de histórias. Procuram encontrar pessoas cujas histórias rendam matérias e que possam interessar o seu leitor. Na busca de mais um personagem, o jornalista Steve Lopez, do Los Angeles Times, conhece um sem-teto nas ruas da cidade onde vive que toca violino. A partir de então, ele vai para descobrir sua história e é ela o tema de "O Solista" ("The Soloist"), longa-metragem que estreia neta sexta-feira, dia 6 de novembro, nos cinemas.

Para viver o sem-teto Nathaniel Ayers Jr., o diretor Joe Wright (do sensível "Desejo e Reparação") escolheu Jamie Foxx, ator que é músico e atuou como protagonista de "Ray", sobre Ray Charles. Um filme realista, sobre a infância dura e a carreira de sucesso permeada por dramas do cantor cego. Nesta fita, em vez do piano de Charles, Jamie toca violino e, com ajuda do jornalista – que contou sua história e motivou os leitores a ajudá-lo –, ganha um cello e faz, da sua música, a trilha sonora do longa. E, como uma poesia, une as imagens das pombas livres voando ao som do cello de Nathaniel.

Na pele do jornalista está Robert Downey Jr., o mesmo que fez “Homem de Ferro” e “Trovão Tropical”: um homem aparentemente duro, mas de coração mole. De acordo com o material de divulgação para a imprensa, Downey Jr. estava procurando um papel como esse para fazer o equilíbrio das duas produções anteriores.

Embora o solista do título se refira ao músico, o espectador pode perceber que o jornalista também faz carreira-solo. Isso porque mora sozinho (é divorciado e tem um filho em outra cidade) e vive sozinho na profissão, já que sua coluna depende apenas de si mesmo e dos personagens que vai encontrar no meio do caminho.

Baseado em história real e inspirado no livro escrito por Steve Lopez, o longa se apoia na história de vida do sem-teto, mas aproveita para discutir sobre amizade e a transformação que o humilde cidadão e morador das ruas de Los Angeles A fez com sua vida ao conhecer o jornalista, mas também da transformação da vida desse jornalista, que viu na simplicidade do sem-teto a oportunidade de aprender como a vida pode ser bela e rica, principalmente quando se tem as pessoas certas ao lado.

São coisas distintas: um jornalista que estudou, trabalha em uma grande empresa, teve o casamento desfeito (e por isso vive só) e atualmente mora em uma casa onde tem problemas com os animais que destroem a grama. Do outro lado está um morador de rua, proveniente de uma família humilde na costa leste dos Estados Unidos, que foi viver nas ruas de Los Angeles com a justificativa de que é a cidade dos anjos, onde as pessoas podem ser livres, é o local onde Beethoven – seu ídolo – escolheu para viver, além de ter frequentado por um ano uma das escolas de música mais respeitadas do país. Mas sua esquizofrenia o fez escolher viver entre túneis, tocar a mesma canção incessantemente em seu violino de duas cordas e carregar seus pertences dentro do carrinho de compras. Quando criança, era sonhador e tocava instrumentos inclusive quando ia dormir, já deitado na cama e fazia de seus braços, os acordes do violino.

O longa também coloca em discussão a crise dos jornais norte-americanos, apresentando os números que demonstram a perda de leitores: atualmente, o Los Angeles Times contabiliza 40% menos leitores com idade até 35 anos.

O espectador vai poder também acompanhar a saga do jornalista tentando convencer o morador de rua a ir para um abrigo, o Lamp Community – grupo que oferece 200 apartamentos a moradores de rua, inclusive aquele em que Ayers reside atualmente.

Com narrações em off e diálogos bem-construídos de maneira a ter o espectador como testemunha, o diretor inglês promove uma história de superação que preza sobretudo a amizade improvável entre duas pessoas distintas, que foi capaz de transformar a vida de duas pessoas, ou melhor, a de milhares de outras envolvidas com a história comovente.

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