Melhor que ir a Paris, é voltar a Paris. Explico: na primeira vez que se vai à capital francesa tem-se a obrigação de fazer alguns passeios, conhecer o trivial, a urgência de ver tudo. Mas tudo é impossível, até porque a cidade oferece diversas opções de cultura e entretenimento que quatro dias, uma semana, não são suficientes. Portanto, voltar a Paris é ter novamente a oportunidade de continuar de onde se parou, de rever os melhores momentos e de explorar tantos outros.
Embora subir a Torre Eiffel seja o passeio obrigatório, nunca é demais. Aliás, não é necessário subir os seus 276 metros, mas só o fato de ir até a estação Trocadéro do metrô, você já se sente recompensado. É de lá que a melhor vista do monumento inaugurado para a Exposição Universal de 1889 e você tem absoluta certeza de que está em Paris.
Outro passeio bacana é subir o Arco do Triunfo. Vá lá que o trabalho de escalar os seus 284 degraus não é tarefa fácil, mas a vista do alto compensa. De lá é possível observar as 12 avenidas que partem do local, mas é superorganizado para os pedestres, pois para se chegar ao Arco existe uma passagem subterrânea.
Em Paris há muitos parques, praças e locais para descansar, contemplar, ver a vida passar, se exercitar, como acontece no Bois de Vincennes, que serviu de espaço para treino militar no século 19. A Place des Vosges, localizada próxima ao metrô Bastille, é destino certo dos parisienses que querem curtir a paz, deixar as crianças brincarem nos tanques de areia, observar os estudantes desenhando a arquitetura. No local há 36 casas cujas construções estão intactas há 400 anos. É lá a casa do poeta Victor Hugo, autor de “Os Miseráveis”, onde hoje funciona um museu.
Outro local bastante movimentado é a Place de La Concorde, próxima ao Museu do Louvre, que conta com uma roda-gigante inaugurada em 2000. A praça é a mais importante da história francesa, onde o rei Luis XV foi guilhotinado durante a revolução. Ali do lado está o Jardin des Tuileries, onde é bastante comum observar as pessoas sentadas em frente aos lagos comendo uma baguete na hora do almoço, se expondo ao sol nos dias quentes de verão, contemplando a natureza, dando pão aos pássaros que vêm visitar. O mesmo também acontece no Jardin du Luxembourg, próximo ao Boulevard Saint-Michel, rodeado por esculturas e flores.
Se as catedrais que você conheceu em Paris se resumem à Sacré Coeur e à Notre- Dame, não deixe de conhecer a Capela da Medalha Milagrosa. O altar é lindo, delicado, há missas em inglês, além de se poder adquirir medalhas com explicações em português.
Museu para todo lado
Evite chegar desavisado à cidade que inventou o impressionismo, a alta-costura e (ninguém é perfeito) o mau humor. É verdade que muitos na cidade não falam inglês, mas nos lugares turísticos é muito fácil conseguir informação, caso o francês não seja o seu forte. Nos museus existe uma grande resistência de se colocar os dados da obra em inglês, o que é lamentável. No entanto, aqui vão algumas dicas: sempre que for abordar uma pessoa na rua, no caixa da loja, na bilheteria do metrô, diga “bonjour” (ou “bonsoir” se for de noite). E emende outras palavras mágicas: “s’il vous plaît”, “merci” e “au revoir”. Sendo bem-educado, ninguém vai negar em dar uma mãozinha.
Outro defeito de Paris é a sinalização, que deixa a desejar em muitos locais. No entanto, as 16 linhas do metrô mais outras tantas de trem dão conta de cobrir a cidade, de modo que se pode chegar a qualquer lugar. Os vagões da linha 14, a mais moderna (inaugurada em 1998), são automáticos, por isso não precisam de operador (sorte de quem precisou dele durante as greves ocorridas em outubro e novembro).
Embora visitar o Louvre seja passeio obrigatório, se você esteve em Paris e já passou por ali, não perca a chance de entrar, se sentar em um dos cafés debruçados no hall de entrada e experimentar um crepe doce ou salgado. Aproveite ainda para conhecer o Carrossel do Louvre, apreciar o Palais Royal, passear pelo Marais e fazer compras na Rue de Rivoli.
Do outro lado do rio Sena está o Museu d’Orsay, instalado em uma antiga estação de trem. Só por sua arquitetura já vale a visita. De quebra, a principal coleção de arte impressionista de Paris. Monet, Van Gogh, Degas, Renoir, Rodin, Manet, estão todos lá.
Outro museu que fica bem perto é o L’Orangerie, reaberto em 2006 após reforma. Um dos pontos altos são as “Ninféias”, de Monet, pintadas de parede a parede. Bem em frente ao painel há bancos para contemplar a obra do artista.
Imperdível também é o Museu Picasso, que além de telas há um espaço dedicado às esculturas. Outro que também tem jardim para as esculturas é o Museu Rodin, famoso por sua obra “O Pensador”. A obra, aliás, está lá exposta e pode ser fotografada.
Dedicada à arte moderna, o Centre Pompidou foi construído nos anos 1970 e batizado em homenagem ao presidente francês anterior Georges Pompidou (1911-1974). As escadarias do lado de fora mostram que do lado de dentro há muito o que se ver. A sua arquitetura destoa do restante da cidade, que é praticamente uniforme, e traz visitantes durante o ano todo, do mundo inteiro. Nas tardes aos finais de semana, artistas se apresentam na entrada, onde centenas de pessoas se sentam no chão para contemplar os músicos e os números circenses que são apresentados. No alto do prédio é possível sair na varanda e observar a cidade inteira, de tal maneira que se pode avistar o Sacré Coeur bem ao longe.
Para a arte contemporânea está o Palais de Tokyo, com obras que lembram aquelas que vemos nas Bienais por aqui e onde sempre fazemos a famosa pergunta: isso é arte? No mínimo, vale conhecer.
Embora eu não tenha conseguido ir (por duas vezes o museu estava fechado), o Marmotan tem uma grande coleção de Monet doada por seu filho, além de obras de Renoir e Pissarro. O museu fica em um lugar afastado da cidade e o passeio também vale a pena.
Fora de Paris
Versalhes é um programa para um dia inteiro. Primeiro é preciso pegar o trem (viagem de meia hora) para se chegar ao local. E preparar as pernas, porque a certeza que se tem é que é preciso andar muito para dar conta de conhecer todas as belezas do castelo, assim como os seus jardins. Ao todo são dois, pois existe a propriedade que foi de Maria Antonieta, localizada no final da área. Aproveite para conhecer o Petit e o Grand Trianon.
O jardim, aliás, inspirou o do Museu do Ipiranga, que foi recentemente reformulado. Além de árvores por todos os lados, o jardim conta ainda com lagos, com fontes, rodeados por labirintos, projetos geométricos. Dentro do castelo é possível conhecer como viviam os reis, imaginar Maria Antonieta, Luis XVI. No Salão dos Espelhos foi onde aconteceu a assinatura do Tratado de Versalhes, ao final da Primeira Guerra Mundial, em (1914-1918): história pura.
Outro passeio imperdível, e talvez não muito comum, é a Fundação Claude Monet, que fica em Giverny, a uma hora de Paris. Para chegar lá, compre um bilhete na estação Saint Lazare com destino a Vernon. De lá, pegue um ônibus até Giverny.
Foi ali que o pintor impressionista viveu seus últimos dias de vida e pintou os seus mais belos quadros. Além da casa, é possível passear por seu jardim rodeado de flores, contemplar as ninféas e as vitórias-régias que tanto o inspiraram, conhecer a Ponte Japonesa, tema de outros quadros. Enquanto viveu na cidade a beira do rio Sena, Monet aproveitou para pintar o que via de diversas maneiras, de acordo com a estação do ano e a luz que incidia no local: inspiração, como é possível ver, não lhe faltou.
Se tiver com criança, ou quiser voltar a ser uma, vale uma visita à Disneyland. O parque completou 15 anos em 2007 e está uma festa. Além de poder brincar (apele para o Fast Pass para não morrer na fila) e visitar o Castelo da Bela Adormecida, é possível esbarrar nos personagens da Disney: Mickey, Minnie, Pato Donald, Margarida, Pateta, Buzz Lightyear, Timão e Pumba...
Cinema para quem precisa
Não faltam cinemas em Paris. Foi ali, aliás, que aconteceu a primeira projeção cinematográfica em 28 de dezembro de 1895, pelos irmãos Lumière. A exibição foi feita no Le Grand Café, que existe até hoje no boulevard des Capucines. Uma experiência interessante é o I-MAX no Geóde, localizado na Cité des Sciences. Todos os dias há sessões alternadas de filmes que podem ser simplesmente em I-MAX ou ainda em 3D. Além de cinema, o local possui cinco andares com exposições interativas, como se fosse uma cidade da ciência.
A Cinémathèque Française, em Bercy, é outro lugar para se respirar cinema. Além de mostras (com 40 mil filmes) há uma livraria com um sem-número de livros sobre a arte cinematográfica. Bem em frente à Cinémathèque, aliás, há uma escultura do brasileiro Oscar Niemeyer.
Para os que preferem os tradicionais, o moderno UGC Cine Cité Bercy exibe programação do cinema americano e, claro, em francês. O cinema fica em um lugar pouco visitado pelos turistas e é onde os parisienses se encontram para tomar um café e assistir a um bom filme. Outra rede que também atrai os moradores da cidade por conta de sua programação é o MK2 Bibliothèque. Só uns parênteses: ao final da exibição, as portas do cinema “jogam” as pessoas para a rua, de modo que não há volta para aquele xixi depois de duas horas sentado.
E não se dê por satisfeito. Em Paris sempre é tempo de bater perna de um lado para o outro, conhecer novas coisas, novas lojas, novos bistrôs, cafés e assim por diante. O Quartier Latin é destino para quem quer jantar em restaurantes alternativos (há muitos gregos por ali com os seus churrasquinhos) ou dançar em um bar.
Não se limite aos cafés mais conhecidos (passe longe do Starbucks Coffee, esse tem aqui!), pare, entre, conheça as novidades, ex-perimente as baguetes durante um almoço rápido, coma um macaron de framboesa ou de chocolate como sobremesa, abuse do vinho nacional. Aproveite o que Paris tem de melhor, os monumentos iluminados, o perfume, os croissants e não se esqueça de usar as palavras mágicas. Você não vai se arrepender, afinal sempre será tempo de voltar!
*Matéria publicada na edição 31 (dezembro de 2007) da revista METROPOLIS.
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