sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Nosso Lar - Entrevista com Wagner Assis

Em cartaz desde o dia 3 de setembro, o longa-metragem “Nosso Lar”, baseado no livro psicografado por Chico Xavier, tem ocupado o primeiro lugar nas bilheterias brasileiras e, no último final de semana, atingiu mais de 3 milhões de ingressos, e acumula renda de mais de R$ 28 milhões.

O diretor Wagner Assis conversou sobre o sucesso do filme, principalmente porque, entre os nacionais que mais venderam ingressos, está “Se eu Fosse Você”. No entanto, o tamanho do sucesso pode ser explicado pelo que chamamos de “star system”, ou seja, quando a estrela comanda e, no caso, há Glória Pires e Tony Ramos como protagonistas. De certo modo, “Nosso Lar” não tem atores muito conhecidos, embora conte com atuação de Paulo Goulart, Othon Bastos, Werner Schünemann.

Na entrevista, o diretor fala também sobre a indicação do Ministério da Cultura do filme “Lula, O Filho do Brasil” para tentar uma vaga no Oscar. Desde 1999, com “Central do Brasil”, de Walter Salles, não conseguimos uma indicação como Melhor Filme Estrangeiro, ainda que “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, tenha conseguido quatro indicações (Melhor Diretor, Edição, Fotografia e Roteiro Original).

Sobre a carreira internacional do filme, Assis desconversa, mas diz que em breve teremos novidades, e o DVD está previsto para 2011. Acompanhe a entrevista.

O desempenho nas bilheterias te surpreende ou esse sucesso já era esperado?
Sim e não. Quando a gente faz um filme, quer sempre o melhor, e fazer cinema é lidar com o imprevisível. O filme é baseado em um livro que vendeu mais de dois milhões de exemplares, então sabíamos que poderíamos ter uma boa audiência. Mas isso não significava que o público fosse ao cinema. A surpresa é que muita gente que leu, ainda não foi ao cinema, mas ao mesmo tempo tem gente que volta a uma sala de cinema após 20 anos. E é um filme que as famílias estão indo, principalmente porque as bilheterias de domingo têm as melhores rendas. Há gente curiosa sobre o tema, mas o mais importante de um filme é a história poderosa.


Você é espírita?
Prefiro dizer que sou espírita, cristão e ecumênico: estudei em colégio católico e gosto da convergência religiosa. Aprecio o espiritismo e a ecumênica.

Filme, série de televisão, novela espírita estão na moda ou sempre esteve e nunca nos demos conta?
Ótima observação. O tema sempre esteve. Em 2010 tivemos seria­do (“A Cura”), novela (“Escrito nas Estrelas”), filme do homem espírita (“Chico Xavier”) e de sua obra mais importante (“Nosso Lar”). Cos­tumo brincar que “Lost” é um seriado espírita e ninguém sabia. Para citar novela, “A Viagem” sem­­pre quando reprisa, tem ótima audiência, e a de 1994 é regra­va­ção da de 1975. E o cinema ameri­ca­no é repleto desses filmes, mas cito dois: “Ghost – Do Outro La­do da Vida” e “O Sexto Sentido”.

Você leu toda a obra de André Luiz? E Kardec?
Li todas de André Luiz. É um legado. E muita gente ainda vai descobrir suas obras. Kardec você estuda, é um livro de consulta.

Você faria um filme católico, tipo o do padre Marcelo, ou de outra religião?
Com toda certeza. Sempre uma história bem contada é interessante. Já fiz filme de duendes... [Ele é autor do roteiro de “Xuxa e os Duendes”.]

Lula, O Filho do Brasil” custou cerca de R$ 16 milhões, um dos filmes mais caros feitos ultimamente. “Nosso Lar” custou R$ 20 milhões e conta com efeitos especiais desenvolvidos no Canadá, na Intelligent Creatures, mesma empresa responsável por filmes como “Fonte da Vida”, “Babel” e “Watchmen”. Você acredita que o Brasil ainda não tem condições de desenvolver esse tipo de animação/efeitos?
“Nosso Lar” custou caro porque as coisas são caras. A trilha sonora composta pela Orquestra Sinfônica Brasileira é cara, o diretor de fotografia de Los Angeles é caro, além de toda a estrutura de cená­rio que tivemos de construir. Não tínhamos condições estruturais de fazer os efeitos especiais aqui. Tínhamos 90 profissionais traba­lhando em cima do filme e fizemos tudo em nove meses. Nenhuma empresa aqui tinha experiência para fazer, e os canadenses tinham know-how com produção independente.

Embora “Nosso Lar” tenha sido votado por milhares de brasileiros para representar o Brasil no Oscar, o Ministério da Cultura indicou “Lula, O Filho do Brasil”. Qual a sua opinião sobre a escolha?
Respeito a comissão de profissionais que escolheu o filme, foi uma decisão unânime, são as regras do jogo. 

Você acha que “Nosso Lar” teria chance?
Não tenho como avaliar a chance. Eu gostaria que “Nosso Lar” fosse escolhido. Mas se a decisão tomada tenha algo mais a ver com política, as consequências não serão boas.

Desde a Retomada, o Brasil tem feito diversos longa-metragens que tem agradado o público e a crítica. No entanto, nem sempre acertamos na escolha para o Oscar. Onde estamos errando, em sua opinião?
Os experts podem nos dizer. Será que o Brasil precisa de um prêmio como esse? Não seria melhor premiar as salas de cinema? A quantidade de salas que o Brasil tem hoje é ridícula em comparação ao número de habitantes. Estamos cansados de ouvir relatos de cidades que possuem mais de 500 mil habitantes e não têm cinema. Isso seria uma premiação bacana, porque a falta de sala afeta a indústria.

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