sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Golpista do Ano

Enquanto o personagem vivido por Jim Carrey descansa em um hospital após ser entubado, o longa-metragem “O Golpista do Ano” (“I Love You Phillip Morris”) retrocede e começa a contar a história e como ele foi parar lá. Com narrações em off e, de fato, como se ele tivesse contando uma história ao espectador, o ator vai acrescentando elementos, apresentando sua vida e os outros personagens.

Então, ele mostra sua família (seu filho, sua esposa), seu trabalho na polícia do Texas, a separação, até revelar que é gay e que se mudou do lugar onde vivia para morar com um namorado na quente e ensolarada Flórida. É a partir de então que entra um novo personagem: o brasileiro Rodrigo Santoro que, sim, faz o papel do namorado de Jim Carrey.

No entanto, entre uma cena e outra, a plateia é convidada a co­nhecer os golpes que o tal golpista faz para se dar bem: se passa como um empresário, um criminoso de colarinho branco, foge da polícia, é preso, até que é largado pelo namorado. E pronto: lá se foram as participações de Rodrigo Santoro no cinema hollywoodiano, tal como já pre­senciamos suas passagens rápidas em filmes como “As Panteras 2 – Detonando” quando fez um surfista, sua participação vapt-vupt pelo seriado “Lost”, no qual interpretou Paulo e morreu precocemente, até o rei Xerxes, no épico “300”.

Mas é em uma de suas estadas na prisão que Steven Russell (Jim Carrey) conhece Phillip Morris (Ewan McGregor), um rapaz loiro, cheio de vida, que não frequenta os banhos de sol da prisão por temer ser sacaneado pelos outros presos devido sua opção sexual. A partir de então, ele vai dar outro golpe: estudar direito até conseguir entender um pouco as leis, se fingir de advogado para tentar li­bertar o namorado da prisão.

Entre um golpe e outro, o espectador vai acompanhar a história escrita a quatro mãos por Glenn Ficarra e John Requa, baseado no romance do ex-repórter investigativo do “Houston Chronicle”, Steve McVicker. Os dois, aliás, são também os diretores, em suas primeiras experiências em longas-metragens. Há falhas, claro, mas no geral, ambos fazem um bom trabalho com as câmeras.

Golpistas há aos montes no cine­ma, como fez, por exemplo, Leonardo DiCaprio na refilmagem de “Prenda-me se For Capaz”. No entanto, a mistura da história de amor, ainda que seja gay, com o desejo de se dar bem, é um dos fortes da trama que estreia nesta sexta-feira, dia 4 de junho.

Jim Carrey, que ficou consagrado por suas comédias do tipo pastelão, como “O Máscara”, faz bem o papel de homossexual, que se aproveita do timing de comédia perfeito para introduzir a graça que seu personagem pede, principalmente entre uma fuga e outra. Assim como Santoro, que já interpretou um gay no longa nacional “Carandiru”, de Hector Babenco, tem o porte que esse tipo de personagem pede (é pequeno, magro, elegante, tem a energia latina, assim como o rei Xerxes, que também tinha uma predileção homossexual, com toda aquela fantasia dourada, unhas compridas, joias etc.), e está bem na película, ainda que sua presença seja rápida.

No entanto, é a química entre Jim Carrey e o escocês Ewan McGregor (de “Moulin Rouge”) que funciona, faz o espetáculo ser ainda mais apreciável e, claro, as piadas serem engraçadas. “O Golpista do Ano” é uma história verídica. Ao final, é possível des­cobrir o que aconteceu com as pessoas apresentadas. O verdadeiro Phillip Morris, aliás, atuou como consultor do filme. O que não se pode esperar, obviamente, é um filme politicamente correto ou lições de moral, mas sim boas risadas, produção pequena que funciona e um pouco menos de duas horas de pura diversão.

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