O roteiro é escrito pela também produtora Rita Buzzar, a mesma responsável pelo roteiro “Olga”, baseado no livro de Fernando Morais. Embora Carvalho tenha pouca experiência como diretor (ele fez “Cazuza – O Tempo não Para”, por exemplo), seus trabalhos anteriores como diretor de fotografia são inúmeros, como “Carandiru”, “Central do Brasil”, entre outros. Neste filme, porém, a fotografia é seu filho, Lula Carvalho, que filmou, por exemplo, “Tropa de Elite”. Ele conta no material divulgado para a imprensa que precisou usar diferentes negativos no Rio e em Budapeste, por conta do modo como o sol incide na América do Sul e na Europa.
As cenas que a equipe fazem questão de destacar são aquelas que emitem o frescor do momento, como é possível comprovar quando o personagem de Leonardo Medeiros está em Budapeste e começa a desvendar os mistérios do idioma. Detalhe quando ele estuda as palavras a partir de programas de televisão. Mas é em uma livraria onde vai procurar um livro que ensina o húngaro, “único idioma que o diabo respeita”, que conhece a professora (Gabriella). E é no meio da livraria, com ela andando sobre patins, que os dois se conhecem e desenvolvem uma amizade pouco provável, uma vez que ela não o deixa falar inglês e, até então, ele não sabia nenhuma palavra em húngaro. Embora se tem a impressão que ele aprende o idioma, ele conta que percebeu, depois de começar a estudar antes das filmagens, “que nunca ia aprender húngaro na vida”. Foi aí que ele apenas decorou as palavras e tinha um alfabeto fonético.
Como o personagem do filme, Leonardo Medeiros está bem, mas o ator, em quase todos os filmes que faz, parece estar fazendo o papel de si mesmo, já que parece ter sempre a mesma aparência, os mesmos trejeitos, ao contrário do ator que se transforma para viver determinado personagem.
Giovanna, como esposa do protagonista e apresentadora de telejornal, também não cativa o público por sua atuação, mas as cenas em que ela aparece, consegue interpretar de maneira natural, fazer cenas de ciúmes para provocar o marido, ser sensual para o amante e mostrar que tinha, de fato, vontade de engravidar quando se casou com Costa.
Além de ser autor do livro, a contribuição de Chico Buarque no filme foi ler o roteiro e fazer uma participação especial, que foi apenas uma homenagem, já que sua atuação não acrescenta nada à narrativa. “Eu tenho o papel de mim mesmo, sou eu mesmo pedindo autógrafo ao protagonista do meu livro. A única dificuldade é que eu tenho que falar uma pequena frase em húngaro”, diz Chico, brincando que repetiu a frase por 24 horas. O convite partiu do diretor, dizendo que queria que ele “desse uma de Hitchcock”, o diretor inglês que sempre aparecia em seus próprios filmes. Chico conta também que escreveu o livro antes de conhecer a cidade. “Tinha uma ideia dela. E quando eu fui, fiquei com medo de encontrar na realidade uma coisa que imaginei tanto, e foi engraçado porque muita coisa que eu tinha sonhado, realmente, correspondia à realidade, embora o livro nunca tenha tido essa intenção porque não é um livro realista. Mas tem muitas coisas que foi me surpreendendo nesse sentido. Parece que eu tinha adivinhado mais do que sonhado com a cidade.”
A trilha sonora não tem músicas de Chico Buarque, a não ser a versão em húngaro de “Feijoada Completa”, cantada por Ary Byspo e pelo cantor húngaro András Domján. Os versos foram traduzidos pelo tradutor do livro e do roteiro, o professor Pál Ferenc.
“Budapeste” não é um filme primoroso, no qual é possível sair da poltrona do cinema e pensar sobre o assunto ou ter vontade de assisti-lo novamente, inúmeras vezes porque é imperdível. Mas há cenas cativantes, momentos em que é possível prender a atenção do espectador, além de ter paisagens lindas e passagens poéticas, como quando o protagonista fala que “a verdadeira poesia desaba por dentro”.
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