quinta-feira, 19 de março de 2009

Gran Torino

O valente Clint Eastwood pode ter sido injustiçado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood quando não o indicou tampouco indicou o seu filme ao melhor prêmio. No entanto, o Festival de Cannes, o mais importante dos prêmios de cinema, corrigiu o "erro" da academia e fez a ele uma homenagem, quando lhe entregou Palma de Ouro Honorária por toda a sua obra no cinema, pela "paixão que ele desperta nos cinéfilos, admiração e respeito em resposta natural à sua elegância". Nada mau.

Seu novo filme, "Gran Torino", é o primeiro em que aparece como ator depois de "Menina de Ouro", uma vez que entre essas produções ele fez outras três: "A Conquista da Honra", "Cartas de Iwo Jima" e "A Troca", esta última lançada recentemente, que indicou Angelina Jolie ao papel de Melhor Atriz na festa do Oscar.

Na produção, que estreia nos cinemas dia 20 de março, Eastwood é Walt Kowalski, um veterano da Guerra da Coreia que mora em um bairro tipicamente americano, no Michigan, mas que, dia após dia, assiste aos seus vizinhos mudando de casa e novos moradores se aproximando. A nova vizinhança, porém, é formada por imigrantes, principalmente orientais, os hmong.

No início da fita, Walt aparece no funeral de sua esposa. Ao mesmo tempo, os personagens são apresentados e sua personalidade é acentuada, já que é rabugento, reclamão, não aguenta a convivência com filhos e noras, além, é claro, de sua implicância com os vizinhos, chamando-os de "china". O bairrismo é representado principalmente pelo exagero ao mostrar a bandeira americana hasteada na casa e impressa nos copos, por exemplo.

Ao lado da cachorra Daisy, da raça Labrador, Walt passa horas na varanda de sua casa, e sua maior paixão, como não poderia deixar de ser, uma vez que trabalhou na indústria automobilística por mais de 50 anos, é lustrar seu Ford Gran Torino, ano 1972, que é preservado embaixo de uma capa na garagem. A paixão é alternada entre consertos domésticos (ele tem uma grande gama de ferramentas), cerveja e visitas ao barbeiro, com quem tem uma relação amistosa, embora muito estranha. O ápice da história, porém, acontece quando alguém tenta roubar seu automóvel.

Com roteiro do estreante Nick Schenk, a partir da história que criou com Dave Johannson, o filme trata de relações com a família, com os vizinhos que, como sabemos, muitas vezes são mais importantes que a própria família, uma vez que eles estão sempre por perto, e da relação com a igreja. Entre as cenas, Walt troca conversas nada amistosas com o padre (Christopher Carley), e coloca em dúvida o papel da igreja na sociedade, além de considerar o reverendo "um virgem de 27 anos de idade que estudou demais".

As coisas começam a se acalmar quando Walt cria ligação com o vizinho hmong Thao (Bee Vang) e sua irmã Sue (Ahney Her). E é justamente a partir dessa convivência que Walt começa a conhecer um pouco sobre as diferenças de cultura, a ser tolerante quanto à convivência e a conhecer um pouco sobre sua personalidade, uma vez que ainda não esqueceu as maldades que teve de praticar durante a guerra, quando esteve a serviço dos Estados Unidos.

Como Walt, Eastwood é um senhor caricato, que faz trejeitos para parecer ranzinza, fazendo um barulho com a boca. Ao mesmo tempo, sua atuação ímpar convence o espectador com a macheza que lhe é peculiar, além de mostrar sua cara carrancuda quando enfrenta as gangues que vão lhe perturbar o sono.

Destaque também para a trilha sonora, que mistura rap hmong e latino, além de uma surpresa no final, juntamente com os créditos. Um filme emocionante, capaz de tocar o espectador e fazê-lo refletir sobre sua vida.

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