quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Milk - A Voz da Igualdade

Na disputa pelo Oscar em oito categorias (incluindo as principais, como Filme, Diretor, Ator, Ator Coadjuvante), "Milk - A Voz da Igualdade" ("Milk") chega aos cinemas dia 20 de fevereiro.

A fita é dirigida por Gus van Sant, diretor norte-americano "com alma europeia", acostumado a fazer cinema de autor, como quando filmou "Elefante" e "Paranoid Park" (os mais atuais). O último, aliás, foi premiado em Cannes em 2007, e o primeiro ganhou a Palma de Ouro em 2003.

Além do diretor, outro trunfo de "Milk" é a presença de Sean Penn no papel-título, que é talentoso e respeitado no meio cinematográfico. Em 2008, ele presidiu o júri do Festival de Cannes, o mesmo que premiou o francês "Entre os Muros da Escola" ("Entre les Murs", ainda inédito no Brasil). Como ator, Sean ganhou o Oscar por sua atuação em "Sobre Meninos e Lobos", longa-metragem dirigido por Clint Eastwood.

Por "Milk", Sean Penn perdeu o Globo de Ouro para Mickey Rourke, de "O Lutador", e ao Oscar ele compete novamente com Mickey, Richard Jenkins ("The Visitor"), Frank Langella ("Frost/Nixon") e Brad Pitt ("O Curioso Caso de Benjamin Button").

Vamos ao filme. "Milk" conta uma história não-linear sobre Harvey Milk (Penn), ativista dos direitos gays assassinado no final da década de 1970. O filme começa mostrando cenas em preto-e-branco, manchetes de jornais de 1978 e, enquanto está sentado falando para um gravador, narra os acontecimentos que vão aparecendo na tela para o espectador.

Morador de Nova York, Milk conhece um rapaz no metrô e o convida para passar a noite, alegando que é seu aniversário. É quando lhe dá um beijo na boca e os dois fogem juntos para São Francisco, onde poderão viver com liberdade.

Do outro lado do país, Milk e Scott (James Franco) vivem a fantasia e abrem uma loja de fotografia, mas são discriminados pelos comerciantes locais porque são gays. A partir de então, Milk começa a buscar seus direitos e a unir a comunidade de homossexuais na cidade, principalmente com a ajuda de Cleve Jones (Emile Hirsch), até que se candidata e é eleito para o Quadro de Supervisores de São Francisco em 1977, tornando-se o primeiro gay a assumir um cargo público naquele país. Além dos gays, ele lutava em prol das outras minorias, como idosos e operários sindicalizados.

"Isso aconteceu durante uma época difícil para a comunidade gay, com a crise da aids. E foi aí que pensei que precisávamos trazer essa história à tona para continuar passando a mensagem", conta o roteirista Dustin Lance Black, no material de divulgação para a imprensa.

Quem o ajudou na construção do filme, aliás, foi Cleve Jones, um dos confidentes de Milk. Além de ajudar, ele apresentou e reuniu pessoas que participaram da vida de Milk, como Danny Nicoletta, Anne Kronenberg, Allan Baird, entre outros (e que aparecem anonimamente na fita).

Gus van Sant dá conta de, com as imagens, mostrar uma história comovente: a constante luta pela igualdade e pelos direitos, sempre com movimentos de câmera nada convencionais, como quando gira de um lado para outro, desfoca a lente e mostra a tensão do momento. Um dos momentos mais incríveis é quando aparece a ópera "Tosca" e todo o drama que a envolve.

Sean Penn, como é possível de se imaginar, completa a obra de arte com uma interpretação ímpar, com verdade no olhar e sem se intimidar ao se aproximar dos rapazes com quem Milk se relacionou ou subir nos palanques para discursar. Ele, inclusive, faz o papel de um homossexual discreto, nada afetado ou efeminado demais. Não é exagerado e passa o recado.

Os diálogos bem-construídos são recheados de humor, capazes de fazer o público se emocionar e, quem sabe, se inspirar para lutar em busca de um mundo melhor.

A trilha sonora é um dos pontos altos da fita (e que concorre ao Oscar). Alguns talvez pensem que é exagerada, pois parece ser mais alta quando o momento é dramático, de modo a comover o espectador mais rapidamente. Pode ser, mas isso não tira a sua beleza. Ao contrário, motiva o espectador. Ao final, o filme é atualizado para os dias de hoje e mostra como estão as pessoas que fizeram (literalmente) a história.

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