quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Cidade dos Homens

E lá se vai mais uma produção da televisão ganhar vida na tela do cinema. Da TV Globo, por exemplo, mais de um seriado passou da telinha para a telona, depois de grande sucesso e empatia com o público. “Os Normais” e “A Grande Família” são exemplos de sucesso, cujos personagens foram adaptados especialmente para ganhar a tela grande. No âmbito internacional, “Os Simpsons” ganharam versão gigante em agosto e “Sex and the City” se prepara para ser lançado em 2008.

Nesta sexta-feira, dia 31 de agosto, chega aos cinemas “Cidade dos Homens”, longa-metragem dirigido por Paulo Morelli, um dos criadores da O2 Filmes, mesma equipe que produziu “Cidade de Deus”, sucesso de crítica e público no Brasil e no exterior. “Deu vontade de levar para o cinema e, pela natureza dele, temos mais tempo para contar e podemos terminar a história de Acerola e Laranjinha”, justifica Morelli. “O filme é a conclusão da série de TV. A terceira temporada foi filmada para ser usada no filme e os flash-backs foram feitos de propósito para serem inseridos.” Sobre o fato de levar um produto da TV para o cinema, Morelli conta que “pode ser saudável quando bem-feito”. “Acho que é mais um cinema que passou na TV”, completa.

O filme foca principalmente nos dois personagens que ganharam destaque na série de televisão, Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha), que começaram pequenos e hoje aparecem com 18 anos. E é sobre esta maturidade e a busca da paternidade que trata a narrativa. Acerola precisa cuidar de seu filho Clayton, agora com dois anos, já que a mãe da criança se manda para São Paulo em busca de um bom emprego. E Laranjinha segue em busca de conhecer o seu pai, uma vez que em sua carteira de identidade está escrito “pai desconhecido”.

Enquanto isso, os dois driblam os problemas do morro, já que uma guerra acontece e o dono do pedaço, Madrugadão (Jonathan Haagensen), primo de Laranjinha, perde o posto para Nefasto (Eduardo BR).

Um dos momentos engraçados, mas ao mesmo tempo dramáticos da fita, é quando, logo no início, Acerola precisa cuidar do filho e vai à praia com Laranjinha e a criança. No entanto, os dois acabam esquecendo o pequeno na areia. A cena mostra a responsabilidade que esses jovens precisam ter muito cedo, mas ao mesmo tempo a exploração da cena dramática que envolve a criança e comove o público, no mais explícito vestígio da televisão: cultivar emoções rápidas.
Paulo Morelli não tem medo da comparação em relação ao “Cidade de Deus”. “A idéia era que este filme fosse o mais diferente possível. O ‘Cidade de Deus’ é sobre a formação do tráfico e este é baseado em dois personagens e moradores da comunidade”, explica. Para compor os personagens, aliás, Morelli se instalou em favela do Rio de Janeiro e conversou com ex-traficantes. Aliás, há alguns que compõem o elenco, justamente para dar a realidade que o filme pede. “Encaramos como documentário”, completa ele.

O longa-metragem foi rodado exclusivamente em locações de sete favelas do Rio de Janeiro e, como são pequenas e apertadas e também para dar mais agilidade, a câmera é usada sempre na mão. O fato dá movimentação ao filme, principalmente nas cenas de fuga. A fotografia também é privilegiada, embora seja bem diferente à do irmão mais velho.

“Cidade dos Homens” não acrescenta grandes inovações à cinematografia, mas cumpre o papel a que se propôs: encerrar a história de dois moradores de comunidades da favela carioca, dramatizando com os problemas do tráfico e da responsabilidade que os jovens têm ao crescer à margem da sociedade e sem ter a figura paterna como referência.

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